Ouvir da pedra o seu silêncio. Contemplar. Aprender da pedra o quanto pedra somos. Porém: o quanto água pensamos, por imagens e palavras fluidas. Portanto, permitir sempre que se desfaça a estrutura rígida de nós mesmos.
as pedraS . . .
talvez
palavras demais debates demais
projetam-nos para fora e muito
longe
e
longe assim demais
faz-se dura difícil árdua a
volta.
quem você era antes
dessas palavras todas que lhe cercam
essa alma que se esconde
por detrás de tantas sílabas
cor de cinza
cor de telha
cor de tudo-quando-foge
?
.
31 de outubro de 2014
[ RUGOSIDADES]
pode ser que uma viela
ao fundo
exploda em pétalas carmim
nestas cidades históricas
onde fantasmas posam
para fotos de turistas.
pode ser que uma árvore
frondosa
suporte um bando de pardais
que se aninham ocultos
para cagar na cabeça
dos inconfidentes.
pode ser que uma rua
deixe que lhe cruze
uma dama com vestes de outrora
a jogar charme para um mancebo
que sorvia café à sombra do alpendre.
-- prodígios do espaço urbano
com suas rugosidades
.
Rio, outubro de 2013.
ao fundo
exploda em pétalas carmim
nestas cidades históricas
onde fantasmas posam
para fotos de turistas.
pode ser que uma árvore
frondosa
suporte um bando de pardais
que se aninham ocultos
para cagar na cabeça
dos inconfidentes.
pode ser que uma rua
deixe que lhe cruze
uma dama com vestes de outrora
a jogar charme para um mancebo
que sorvia café à sombra do alpendre.
-- prodígios do espaço urbano
com suas rugosidades
.
Rio, outubro de 2013.
SEMELHANTES
os semelhantes falam uma língua
muda
quando, degredados, se encontram na
urbe
e, apenas com os olhares,
cumprimentam-se
e, na língua nativa se reconhecem
compatriotas de outro lugar
respeitam-se e, mesmo que,
de ofícios distintos
prestam mútuas reverências
com gestos invisíveis aos outros
transeuntes.
e há mendigos, há poetas, há ladrões,
todos degredados de uma pátria que
não é
essa pátria ensolarada que os
confina
e há bêbados, e músicos, e
seguranças de padaria,
e engraxates, e garis, e
mulheres-loucas
todos degredados neste presente
urbano, alheio,
todos degredados de sua pátria longínqua,
dentro...
TERRITÓRIOS
há vários territórios dentro
de um território só e
o importante é se a alma habita
habitar não é ter lugar
mas apenas estar
no espaço de um tempo
onde se sente no quando
habitando em si mesmo
e
mesmo sem lugar
se encontra
e talvez até um endereço fixo
coincida
há vários territórios dentro
desse território tempo
casa de quem apenas está
junto de si próprio e não alheio,
ao tempo de uma ação
e em sincronia
com os passos invisíveis da alma
por entre cômodos desta casa invisível
de nossa residência-mesmo.
e não há logradouro para nossa habitação
(Rio, 18 de setembro de 2013)
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