as pedraS . . .

INFINITO




e mergulhávamos no céu como sapos mergulhavam no lago
e éramos tanto estrelas quanto o corpo da noite
e sua pele de lágrimas infinitas congeladas no tempo
e seu torpor de eternidade quanto crianças distraídas

nossos olhos metálicos como o firmamento
e um silêncio de eras que mora em nós e espera
um silêncio de estrelas e lago
pra mergulhar como sapos no escuro do tempo.

somos o infinito quando abrimos mão de tudo


                                               2 de dezembro de 2012.

ENQUADRAMENTO



pela manhã
frio de serra
janela cerrada
a pele do dia gélida
xícara à espera do café

tilintam talheres na cozinha
um tílbure toca aros e pedras
na memória do vidro

o senhorio sabe de cristais e lustres
sua senhora conhece de castiçais
um cachorro ignora de vento

mundo em moldura
tempo em quadro de celulose.

janela erguida:
um aceno ao cocheiro
uma buzina de fusca,
esticar de correias
a espreguiço matinal







(Janela em Ouro Preto, em agosto de 201?)


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IN:  32 POEMAS PARA CADA COISA. Ed. Confraria do vento.

RESSONÂNCIAS



1.

algumas cadeiras rangem
de uma forma diferente como
se em outra encarnação das coisas
elas tivessem sido cordames
de embarcações fantasmagóricas

2.

se as paredes têm ouvidos
eu não sei...
mas que têm vozes presas
em seu arcabouço, isso têm.
daí toda a sua solidez
no tanto de vozes
que tiverem



IN: Deus, e outras coisas, Acervo EDA