as pedraS . . .

ESCRITA



(a)

a faca lamenta da pena
o bico cheio de grãos
o sumo que vai
correr no sulco do que
antes era a planície
a plana meninice
do espaço lactante

a pena ao pino
fecunda,
façanha de faca,
pingo, pedra, lenha, gota
negra da proteína de tudo
inunda um mundo diminuto de um universo de possibilidades

canta em cântaros o ponto
na expansão esférica do que pode
expandir
extravagante via-láctea


(b)

o vento grava no horizonte
seu testemunho de geografia,
toda paisagem é fotografia
da paisagem escrita na gente


(  )

recolhido à telha
do talhe o vento
dorme a gato
cuneiforme e reticente
e acorda pro entalhe
do que no sonho era novelo

e vai de novo
a zelo
a zero

cada ser uma palavra
no discurso infinito do tempo




IN:  32 POEMAS PARA CADA COISA. Ed. Confraria do vento.