uma salva de silêncio fecha o dia
a rua abre como um fecho éclair
facho claro feixe de luzes de latarias
fluida como modorra que corre no olhar
do motorista
o corpo inerte do chauffeur
é o próprio corpo o fim último do labor
entalado nos lábios da rua,
o corpo grita num abafo
mas engrena.
foi dada ao homem a chave do dia
porém as portas intransponíveis dos vãos de ruas
abertas
quando cada movimento um aborto
uma consciência se acomoda
paraplégica numa poltrona
e temos gamas de cores gritantes nas telas
tênues tons de timpânicas vozes
a consciência entalada
na abertura da rua como fecho.
há lamúria por trás do sorriso
há uma faca sangrando a luz
pontiaguda no cerne da luminescência
há uma salva de silêncio porém
no dia que se abre,
um clarim claro
no escuro-ainda
IN: 32 POEMAS PARA CADA COISA. Ed. Confraria do vento.