a tarde é chapa de metal escovado
na cornija de ferro alinhados,
arrulham aço
e ciscam ranhuras de zinco.
um homem parado no sinal
toma chuva
enquanto um táxi toma café
e um ambulante toma cinco real.
o dia veste malha
de gotas miúdas
trançadas na queda.
a menina veste um sorriso
e um lábio vermelhinho
pra esquentar os dentes.
limalhas de ferro na moela
trituram o dia com facilidade.
um transeunte pensativo,
voando gaivota,
toma titica.
pombos digerem a rigidez das coisas
e cagam
em nossas cabeças.
sacodem a cauda
e alçam vôo
IN: 32 POEMAS PARA CADA COISA. Ed. Confraria do vento.